Apesar da aparente calma em Goma, capital da província de Kivu do Norte, no leste da República Democrática do Congo, a situação humanitária continua a se deteriorar. Organizações internacionais alertam para a falta de suprimentos essenciais e o risco de surtos de doenças devido aos corpos ainda espalhados pelas ruas.
Desde a semana passada, a escalada da violência entre o exército congolês e os rebeldes do M23 resultou em pelo menos 700 mortos e 2.800 feridos, segundo a ONU. Milhares de pessoas fugiram da cidade, muitas delas buscando refúgio na vizinha Ruanda, incluindo funcionários de organizações internacionais como a ONU e o Banco Mundial.
Médicos Sem Fronteiras (MSF) informou que, embora o transporte tenha sido retomado e os mercados estejam reabrindo, os hospitais continuam sobrecarregados e há uma escassez crítica de eletricidade, água e alimentos.
Falta de suprimentos e risco de doenças
O Programa Mundial de Alimentos (PMA) alertou que os moradores de Goma estão ficando sem comida, água potável e suprimentos médicos. “As pessoas estão realmente ficando sem recursos básicos, e isso é uma grande preocupação”, afirmou Shelley Thakral, porta-voz da organização.
Natalia Torrent, chefe das operações da MSF em Kivu do Norte, destacou que muitas pessoas permaneceram escondidas em suas casas sem acesso a eletricidade, água e comida. Ela também expressou preocupação com o risco de surtos de doenças como a cólera, devido à falta de saneamento e à presença de corpos não recolhidos nas ruas.
Equipes do Comitê Internacional da Cruz Vermelha e da Cruz Vermelha Congolesa estão mobilizadas para recolher os corpos e evitar a disseminação de enfermidades.
Hospitais sobrecarregados e estoques saqueados
O hospital Geshero, administrado pela MSF desde quinta-feira passada, já recebeu mais de 154 pacientes vítimas do conflito e continua tratando 12 deles com necessidade de cuidados cirúrgicos. Torrent relatou que as equipes médicas estão exaustas devido ao alto volume de feridos.
Além disso, há preocupações sobre a disponibilidade de medicamentos. “Estamos reavaliando os estoques médicos porque alguns dos armazéns pertencentes a organizações, incluindo a MSF, foram saqueados”, revelou Torrent. A organização administra quatro grandes hospitais e uma rede de centros de saúde na província de Kivu do Norte.
Tensões regionais e apelos por cessar-fogoA escalada da violência tem aumentado as tensões entre países vizinhos. Ruanda informou que nove de seus cidadãos morreram devido a um suposto ataque transfronteiriço vindo de Goma. Pelo menos 18 soldados da paz também foram mortos desde a semana passada.
O governo congolês acusa Ruanda de apoiar o M23 e enviar tropas para a região, uma alegação que Kigali nega. Uganda também foi acusada de envolvimento com os rebeldes, mas rejeitou as acusações.
Diante da crise, líderes regionais pediram um cessar-fogo imediato para evitar que a situação se transforme em um conflito ainda mais amplo.